terça-feira, 7 de abril de 2009

PEGOU NO BREU!


PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Museu chama especialista para `salvar´ locomotiva

Arquiteto é chamado pela UEL para coordenar trabalhos de restauro e manutenção de antigas composições ferroviárias

07/04/2009 | 03:00 | Paulo Briguet

Está faltando um pedaço no coração de Londrina. É um pedaço com algumas toneladas de metal e memória; faz parte da história da cidade; recebeu de nossos avós o carinhoso apelido de “Maria Fumaça”. Há mais de dez anos, uma locomotiva Baldwin, de fabricação americana (Filadélfia, 1910), jaz no campus da UEL, de maneira improvisada, à espera de um maquinista – ou melhor, de um restaurador – que nunca chega.

Mas o sono da velha locomotiva – e de seu tender – parece estar chegando ao fim. Até o ano que vem, ela vai voltar ao seu habitat natural, o pátio da antiga estação ferroviária de Londrina, hoje sede do Museu Histórico da UEL. Restaurada, a locomotiva vai se unir aos dois carros de passageiros que já estão no pátio do museu – e voltar a ser um trem na estação.

Em janeiro, a UEL convidou o arquiteto Christian Steagall-Condé para ajudar na elaboração do novo plano diretor do Museu Histórico. A primeira missão de Christian é recuperar a locomotiva, o tender e os dois carros de passageiros. Ele é o homem talhado para a tarefa: desde criança, um apaixonado estudioso de trens e ferrovias.

Numa primeira etapa, a locomotiva será retirada da prefeitura do campus da UEL e levada às antigas instalações do Instituto Brasileiro do Café (IBC), onde ainda existem trilhos de bitola métrica e uma doca seca. Lá, o velho equipamento passará por um restauro “de funilaria e pintura”.

O trem do museu já passou por várias estações; nem sempre as coisas andaram nos trilhos. O arquiteto comenta: “Fracassaram todas as tentativas anteriores de recuperar esse patrimônio ferroviário. O que me dá uma vantagem estratégica: já sei o que não devo fazer”.

E o que se deve evitar, segundo o assessor do museu, é um “restauro mutilante”. Não se pode restaurar uma múmia egípcia com esparadrapo da farmácia da esquina; o trem do museu deverá receber intervenções técnicas e precisas, que não comprometam a identidade e a integridade da composição. “Vamos usar critérios técnicos para evitar a perfumaria e a uma cosmética profunda demais”, diz Christian Steagall-Condé.

Depois de passar por uma fase de restauro e manutenção, a locomotiva será levada ao pátio do museu – o que deve acontecer no início de 2010. Atualmente, a “Maria Fumaça” está bem deteriorada – além do período na UEL, passou quase 30 anos em exposição num parque público de Jundiaí (SP).

Como especialista em trens, Steagall-Condé garante que a velha máquina Baldwin pode, um dia, voltar aos trilhos. Isso mesmo: a locomotiva tem chance de “voltar à vida” para trajetos turísticos. “Com as intervenções adequadas, esse ‘fóssil’ ferroviário é capaz de andar outra vez”, diz Christian. Segundo ele, a composição tem autonomia para uma viagem até Maringá, sem paradas para reabastecimento.

É. Parece que a Maria Fumaça ainda tem lenha para queimar. Aguardemos as próximas estações.

Centenária, máquina vai ficar na antiga estação

Em 2010, a locomotiva Baldwin completa 100 anos de fabricação. Será a data ideal para levá-la, já restaurada, ao pátio da antiga estação ferroviária de Londrina, hoje Museu Histórico “Padre Carlos Weiss”.

O arquiteto Christian Steagall-Condé diz que a locomotiva hoje guardada no campus da UEL jamais passou por Londrina quando estava em funcionamento. Circulou na região de Bauru (SP). Mas, para o especialista, isso não diminuiu em nada o valor histórico do equipamento. A locomotiva utiliza a mesma bitola das máquinas que passavam pelo Norte do Paraná na época da colonização.

Fabricada na Filadélfia (EUA), no começo do século 20, a Baldwin representa o que havia de mais avançado em termos de tecnologia na sua época. “Era a nave espacial da época”, compara o arquiteto.

A diretora do Museu Histórico, Angelita Marques Visalli, informa que a instituição negocia parcerias com empresários locais para custear o projeto de restauro e manutenção do trem. A Sociedade dos Amigos do Museu (SAM) também participa da busca por recursos. “A locomotiva, assim como o prédio do museu, é um patrimônio que tem uma relação afetiva e emocional com a cidade”, afirma a professora Angelita.

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